A Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul lança a série especial “O Caminho da Elite começa aqui”, que vai trazer entrevistas exclusivas com os presidentes dos seis clubes que disputam a Série B Estadual 2025. Ao longo dos episódios, os dirigentes vão compartilhar planejamento, expectativas e os bastidores da luta pelas duas vagas na elite do futebol sul-mato-grossense. Neste terceiro episódio, é a vez do time que está em uma jornada de fé e superação.
Na vastidão do cerrado sul-mato-grossense, longe dos holofotes das capitais, um sonho teima em brotar na cidade de São Gabriel do Oeste. Não é um sonho qualquer. É um sonho coletivo, regado a amor, suor e a inabalável crença de que o futebol também se escreve com a letra dos interioranos. O São Gabriel Esporte Clube, carinhosamente conhecido como Javali do Norte, não prepara apenas um time para a Série B do Campeonato Estadual. Ele prepara uma missão.
À frente desta empreitada está um sonhador pragmático, o presidente Antônio Soares. Em sua voz, capturada em áudio, não há o tom grandioso dos magnatas do futebol, mas a cadência sincera de quem conhece cada pedra do caminho. Sua fala é um misto de plano de negócios e declaração de amor, um retrato fiel da realidade de centenas de clubes Brasil afora que vivem do improvável.
A Semente Plantada
“Ah, o São Gabriel é um clube de pessoas que gostam do futebol, que sonham com um clube do interior representando o futebol sul-mato-grossense no cenário nacional”, afirma Antônio, plantando a premissa de tudo. O sonho é duplo: revelar atletas e conquistar a elite. “A gente já plantou essa semente e agora estamos trabalhando pra que as coisas comecem a acontecer, né?”
Esse trabalho é movido por uma relação que transcende o profissional. “É uma relação de muito amor, de muito carinho, né?”, confidencia. É um amor direcionado, sobretudo, à base, às “crianças que estão ali envolvidas, que na sua maioria são crianças carentes”. O clube é mais que um time; é um projeto de afeto e inclusão social, um porto seguro para jovens sob a bandeira do Javali.

O Maior Adversário: Tirar Leite de Pedra
Se o amor é o combustível, o obstáculo é concreto e implacável: o recurso financeiro. Antônio é direto: “O maior desafio é o recurso financeiro né? A gente não dispõe de muito… literalmente tem que tirar leite de pedra”.
Ele pinta um quadro vívido da crueza econômica do futebol semi-profissional. Cada jogo é um rombo calculado: “arbitragem, delegado, gerente de segurança, maqueiro, gandulas, tudo requer gasto”. Montar um elenco competitivo nesse contexto é uma arte da persuasão e da criatividade. Enquanto outros campeonatos nacionais oferecem mais visibilidade e atraem os jogadores, o São Gabriel se reinventa, “mascando experiência com juventude” e buscando empréstimos de outras equipes, cativando atletas que, antes de tudo, “acreditem no projeto”.

A Meta: Ser a Surpresa e Escalar o Muro
Mesmo com limitações, a ambição não é pequena. “A gente entra pensando no acesso, né?”, declara, com a serenidade de quem sabe do seu lugar, mas não aceita seus limites. “É claro que a nossa meta é o acesso dentro das nossas possibilidades, dentro da nossa realidade.” Ele reconhece os favoritos de “camisa” e investimento pesado, mas traça a estratégia do underdog: “vamos correr por fora, tentar ser a surpresa do campeonato”.
O acesso não seria apenas uma conquista esportiva; seria uma revolução para a cidade. “Seria a primeira vez que um clube disputaria a Série A, a elite do futebol sul-mato-grossense, aqui em São Gabriel.” As consequências seriam transformadoras: patrocínios de grandes empresas locais, jogos transmitidos pela televisão atraindo investidores. “Isso agregaria muito no nosso trabalho aqui no dia a dia, não só na base mas também no futebol profissional.”
Um Aliado na Federação: O Apoio de Estevão Petrallás
Nessa jornada solitária, o clube não se sente abandonado. Antônio Soares tece elogios públicos à gestão da Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul (FFMS) e, em especial, ao seu presidente, Estevão Petrallás.
“O presidente Estevão tem apoiado o São Gabriel em tudo que a gente precisa, às vezes até mais, né?”, relata, com gratidão. Ele destaca que a Federação, ciente da “dificuldade do futebol sul-mato-grossense”, vai além da organização de um “campeonato competitivo e organizado” e tem “ajudado os clubes naquilo que ela pode”.
Soares enxerga como ações cruciais da gestão Petrallás a busca por parcerias com a FUNDESPORT e o Governo do Estado para “amenizar os custos altos” dos clubes e o empenho em conseguir transmissões para os jogos. “Aquilo que não é visto não é lembrado. Empresa nenhuma quer investir em um time que não aparece. E o retorno financeiro vem através da visibilidade”, analisa, endossando a estratégia de marketing da FFMS como vital para a sobrevivência de todos os clubes.
O Grito de Guerra: Duas Cidades, Um Só Coração
Como todo bom líder, Antônio Soares termina seu recado com um convite e um apelo à sua torcida. Como não poderá mandar jogos em seu estádio, a equipe adotará Costa Rica como seu lar temporário. E ele transforma essa adversidade em uma poderosa união.
“Então serão duas cidades unidas por um objetivo que é a busca pela vaga… Não vai ser só uma torcida, serão duas, né?”, proclama, convocando não apenas os gabrielenses, mas todo o povo costa-riquense para “adotar o São Gabriel” e ser o “décimo segundo jogador” nesta campanha histórica.
É assim que se escreve uma epopeia interiorana. Não com contratos milionários, mas com convicção. Não com astros globais, mas com jovens carentes e emprestados. Não com um estádio lotado em casa, mas com a fé de duas cidades unidas por um só sonho. Sob a liderança de Antônio Soares e com o apoio institucional de Estevão Petrallás, o Javali do Norte não entra em campo apenas para jogar. Ele entra para provar que, mesmo tendo que tirar leite de pedra, o futebol do interior ainda é a seiva mais pura desse esporte.
